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5.12.07

O Problema Básico da Alocação Entre RF e Ações

Traduzido por SER-

Muita gente pensa que os fundamentalistas ficam no mercado sem qualquer proteção. Segue abaixo o texto extraído diretamente do livro "O Investidor Inteligente",de Benjamin Graham, o Pai do investimento em valor e mentor de Warren Buffett, (mal) traduzido por mim. Não seria capaz de descrever a sistemática melhor. Para o Brasil, aonde se lê Bônus, leia-se fundos de RF ou tesouro direto. O texto pode parecer grande, mas é uma pérola..

Boa leitura


O Problema Básico da Alocação Entre Bônus e Ações

Já descrevemos de maneira sucinta nossa política de carteira para o investidor defensivo. Ele deve dividir seu fundo entre bônus e ações de alta qualidade.

Para nortear o investidor, sugerimos como regra básica que nunca coloque menos de 25% ou mais de 75% dos seus recursos em ações e, conseqüentemente, da forma inversa, nunca mais do que 75% ou menos de 25% em bônus. Está implícito que a divisão padrão seria um equilibrado 50—50% entre as duas classes básicas de ativos. Tradicionalmente, a razão lógica para aumentarmos nossa proporção em ações ocorreria quando encontrássemos um nível de mercado tal que fosse possível encontrar “preços de barganha” criados por um mercado retraído. Da mesma forma, um bom procedimento seria reduzir o componente de ações abaixo de 50% quando, pelo julgamento do investidor, o nível do mercado tenha se tornado perigosamente alto.

Essas regras sempre foram mais fáceis de falar do que seguir, porquê vão exatamente contra a natureza humana que produzem os excessos dos mercados de alta e de baixa. Seria quase contraditório sugerir como política razoável para o acionista médio que venda suas ações quando o mercado subir acima de um determinado ponto e que aumente suas posições quando o mercado apresentar uma queda correspondente. É exatamente porquê o homem médio opera, e aparentemente deve continuar operando, da maneira inversa que tivemos os grandes avanços e colapsos do passado; e, esse escritor acredita, que vão continuar acontecendo.

Se as diferenças entre investimentos e operações especulativas fossem tão claras hoje como foram no passado, poderíamos, de uma maneira prática, aconselhar que os investidores vendessem sabiamente suas ações aos impetuosos especuladores a um preço alto para depois recompra-las de volta a um preço mais baixo. Essa abordagem pode ter dado algum resultado tempos atrás, mas são muito difíceis de se identificar depois dos acontecimentos financeiros ocorridos a partir de 1949. Não existe nenhum indício que profissionais, como os dos fundos de investimento, tenham trabalhado dessa forma. O percentual mantido de ações em carteira das duas maiores categorias de fundos - “Balanceados” e “Ações” – têm variado muito pouco de ano para ano. Suas vendas tem sido efetuadas basicamente pela substituição de ações, das menos pelas mais promissoras.

Se, como acreditamos há muito tempo, o mercado acionário tiver perdido a correlação com suas antigas crenças e se novas não foram criadas ainda, não poderemos fornecer aos leitores regras confiáveis para reduzir sua parcela de ações a um mínimo de 25%, para mais tarde retornar a um máximo de 75%. De uma forma geral, acreditamos que o investidor não deva ter mais da metade dos seus recursos em ações a não ser que possua extrema confiança nas suas posições acionárias e esteja certo de que não irá ocorrer uma queda como a que aconteceu em 69-70. Para nós, é muito difícil justificar uma confiança tão grande no atual nível de mercado, presente no início de 72. Por isso agora nos posicionamos contra uma concentração superior a 50% em ações. Por razões correlatas é quase tão difícil aconselhar uma redução a proporções muito inferiores a 50%, a não ser que o investidor fique por si próprio muito ansioso com o nível do mercado e esteja conformado em limitar seus ganhos numa possível subida a apenas 25% dos seus recursos.

Logo, para a grande maioria dos nossos leitores, aconselhamos aquilo que a primeira vista pode parecer uma fórmula excessivamente simplificada de 50-50. Nesse plano a regra básica é manter, ao máximo possível, uma divisão idêntica entre bônus e ações. Quando as variações de mercado produzirem uma elevação no componente de ações, vamos dizer, a 55% o equilíbrio deverá ser restabelecido pela venda de um-onze avos da carteira de ações transferindo essa parte dos recursos para os bônus. Da mesma forma, uma queda para 45% na proporção de ações obrigará a venda de um-onze avos dos fundos em bônus para a compra de mais ações.

A universidade de Yale seguiu um plano parecido com esse por alguns anos depois de 1937, o que potencializou um ganho de 35% na sua parcela de ações. Porém, no início de 1950 a Yale parece ter abandonado sua famosa fórmula, e em 69 possuía 61% da sua carteira em ações (incluindo algumas conversíveis). (Naquela época, os fundos de 71 instituições como essa totalizavam $7,6 bilhões e estavam 60,3% em ações) O exemplo da Yale ilustra o efeito quase letal que pode existir num grande avanço de mercado e seus efeitos sobre aquilo que já foi uma vez uma abordagem de investimento por fórmulas popular. Apesar disso, estamos convencidos que a nossa versão 50-50 dessa abordagem faz muito sentido para o investidor defensivo. Ela é extremamente simples; mantém-se inquestionavelmente na direção certa; e ainda fornece aos seus adeptos a sensação de estarem fazendo alguma coisa em resposta aos acontecimentos do mercado; e o mais importante de tudo, evitará que o investidor compre mais ações quando o mercado avançar a níveis cada vez mais perigosos.

Além do que, o verdadeiro investidor conservador ficará satisfeito com os ganhos obtidos sobre a metade da carteira em um mercado de alta, enquanto que num grande mercado de baixa estará muito mais consolado ao refletir como se saiu melhor que vários colegas com temperamento mais arriscado.

Embora nossa proposta de divisão de 50-50 seja indubitavelmente a mais simples das estratégias para “todos os casos”, pode ser que não seja a que forneça os melhores resultados. (É claro que nenhuma estratégia, mecânica ou de qualquer outro tipo, é garantida de funcionar melhor que as outras). Os maiores rendimentos oferecidos agora pelos bônus de qualidade quando comparados com as ações são um forte argumento a favor da parcela de bônus. A opção do investidor de estabelecer um percentual de 50% ou menor recai principalmente sobre seu temperamento e estilo. Se ele conseguir ter sangue frio para avaliar suas possibilidades em relação aos acontecimentos do mercado poderá preferir manter 25% dos seus recursos em ações e esperar até que os dividendos do Dow Jones cheguem a, por exemplo, dois terços da taxa de juros auferidas pelos bônus. Isso fará com que ele equilibre as parcelas para que fiquem novamente 50—50 entre ações e bônus. Com o DJ a 900 e pagando dividendos de $36 ele requererá uma queda da taxa de juros de 7,5% para 5,5% sem que haja qualquer alteração no retorno em ações, ou uma queda do Dow Jones a menos de 660 caso não haja nenhuma redução na taxa de juros, ou nenhum aumento nos dividendos. Uma combinação intermediária dos casos supracitados poderá produzir um outro “ponto de compra”. Um programa desse tipo não é muito complicado; a parte mais difícil é adotá-lo e manter-se fiel a ele, sem mencionar a possibilidade dele se tornar conservador demais.


4 comentários:

Monitor disse...

Sobre AT e AF, vale a pena ler este texto escrito em 20 minutos por "abaco" no fórum BRSM, que deu origem a este debate, onde a postagem do artigo de Ben Graham, traduzido pelo SER-, foi publicado:

Uma grande confusão, que já dura algum tempo, é a definição do que seja AT. O que muitos consideram como AT na verdade não o é, mas sim uma estratégia baseada em AT. Esse modelo de estratégia se popularizou com o surgimento dos Home Brokers e a possibilidade de manter ordens de stop. Fez fama quando supostamente evitou grandes prejuízos decorrentes das crises econômicas. Logo, 95% dos que diziam usar AT na verdade usavam uma estratégia de operação baseada no uso de stops.

Esse método foi incentivado por corretoras e analistas, interessados nos ganhos decorrentes das taxas de corretagem. Isso porque, nessa estratégia, para cada operação com sucesso ocorriam diversas outras que fracassavam, gerando constantes ordens de compra e venda. Hoje, muitos percebem que essa estratégia talvez não seja a melhor. Simplesmente comprar uma boa ação como Vale PN talvez resultassem em ganhos superiores no longo prazo.

De fato, o uso de stops não é a melhor estratégia num mercado francamente altista. Vários foram os que venderam diante do primeiro espirro do mercado. Vários perderam oportunidades de compra esperando o rompimento de uma LTB ou o surgimento de um pivot. Enquanto isso, quem usou algo que lembra a AF pode dormir tranqüilo sem, aparentemente, maiores preocupações.

Então, temos aqui duas mentiras. A primeira é a confusão que fazem entre AT e estratégia de operação baseada em stops. A AT não implica no uso de uma determinada estratégia, não obriga a se operar apenas no curto prazo, não impõem a sucessão alucinante de operações de compra e vende de um ativo. Ela é uma ferramenta para auxiliar a operação, da mesma forma que a AF, que pode ser emprega nas mais diversas estratégias.

Aí surge a segunda mentira, parecida com a primeira, onde se confunde AF com uma determinada estratégia, com o argumento de que ela dá tranqüilidade ao investidor. Num período de franca alta, a suposta estratégia AF, que nada mais é que investimento de longo prazo, dá a ilusão de tranqüilidade. Contudo, ela mostra as suas falhas em períodos de turbulências, visto que é pouco dinâmica. Mas a AF não é uma estratégia, mas, com a AT, uma ferramenta de apoio, que serviria para diversos tipos de estratégia. Porém, ela é vendida como estratégia.

A desilusão de alguns com a Estratégia AT pode levar a crer na tal Estratégia AF. Porém, ambas são equivocadas, pois AF e AT não são estratégias, mas ferramentas de análises. A busca de fundos de investimentos ditos AT ou AF não faz qualquer sentido, pois supõe a adoção de uma dita estratégia que não o é. Teríamos então fundos baseados em AT que dificilmente poderia ter uma boa perfomance visto que não é uma estratégia adequada em momento de calmaria. Do outro lado, fundos baseados em AF poderiam apresentar uma perfomance enganadora, visto que se baseiam numa relativa imobilidade, mas nada que garanta o seu futuro.

Buscar desempenhos baseados em períodos de 5, 6, 8 anos leva a descoberta de informações incompletas, pois não houve nesse período nenhuma grande crise. A história nos mostra que é comum e cíclico os períodos de grande crise, onde mais da metade do capital vira literalmente pó, independente da qualidade da empresa. Pode parecer absurdo, mas empresas conceituadas e bem estruturadas, mesmo sem qualquer ameaça externa, podem ter seu preço reduzido a menos de 20% do valor inicial (no Brasil, muitos investidores estrangeiros mantêm pesadas posições baseados na situação do câmbio, podendo realizar independente da qualidade da empresa, fato que também explica a valorização de qualquer botequim). Tal fato é vendido pelos que pregam a estratégia dos stops, apresentada como AT, como justificativa para ocasionalmente vender tudo. A posterior recuperação pode demorar anos, mas ela realmente acontece, e quando ocorre é usada como argumento pelos que vendem a estratégia de investimento de longo prazo, apresentada como AF, como justificativa para a imobilidade.

Ambas as estratégias causam pesados prejuízos ao investidor. A estratégia de stops, com seus alarmes falsos, reduz a possibilidade de lucro. A estratégia de investimento de longo prazo força assumir grandes prejuízos após as crises, mantendo a promessa de uma recuperação no futuro, ocasionando a perda de oportunidades.

Se as duas estratégias são equivocadas, porque o investidor continua a procurá-las? Simples: o investidor comum não quer aprender a usar uma ferramenta, mas busca a adoção de uma estratégia que permita que ele faça fortuna. Em determinado momento, percebem que a compra e venda diária só faz a riqueza do dono da corretora. Depois, ao adotarem os supostamente seguros investimentos de LP, percebem que o lucro na bolsa só existe depois da realização. Talvez seja por isso que existam tantas pessoas que perderam com a bolsa.

Anônimo disse...

O comentário do Monitor, especialmente o último parágrafo, resume o que se passa com a maioria do público: é melhor crer em uma estratégia (que não passa de ferramenta) e entregar-se à expectativa de que, agora, sim, vou ganhar dinheiro... Das pessoas que parecem mais estudar, tenho lido conclusões que indicam que o preço do sucesso é a eterna vigilância. Check & double check! Mas... dá trabalho! Depositar a confiança em algo é, inclusive, muito confortável: qualquer erro ocorrido, há o álibi de se ter usado a AF ou a AT ou qquer outra ferramenta, e o erro foi delas, havendo um culpado que não sou eu. Eu fui, isso sim, a grande vítima. Não é à toa que, hoje em dia, os bancos pagam muito (e pagarão mais ainda) aos psicólogos especializados em comportamento humano, em face das finanças. O assunto é muito útil para todos nós, vez que o jogo das finanças tem um forte vetor emocional. luizantonio

Seagull disse...

Reforçando Luiz Antonio;

o texto publicado aqui pelo Monitor foi de autoria do "abaco'.

Apenas para ser justo e deixar claro quem merece os créditos pelo brilhante artigo.

Abs ^v^

Anônimo disse...

Merecidos parabéns, Abaco! la