Plus500

23.4.08

Bons tempos?

Márcio,

Depois de elogios acentuados da minha parte a The Economist faz uns poucos dias, recebi hoje este artigo que, além de analisar em profundidade temas realmente difíceis, insere um comentário sobre o próprio The Economist, para nos relembrar que fazer projeçoes e profecias é realmente muito difícil, especialmente se for sobre o futuro (como dizia jocosamente um autor cujo nome me escapa no momento).

Repasso-o para você. Estou seguro que que conhece o autor, economista de elevada reputação, articulista sério de The New York Times (mas é claro que, por mais qualificado que seja, isso nem sempre garante que ele esteja certo em seus comentários). No tema do artigo, entretanto, as ponderações dele me pareceram em grande parte bastante pertinentes.

Sds
Zarautz

---------- Forwarded message ----------


Os bons tempos podem ter acabado

Paul Krugman*

Há nove anos, a revista The Economist publicou uma grande reportagem sobre o petróleo, que estava sendo vendido, então, a US$ 10 o barril. A revista advertia que isso poderia não durar. Sugeria que o petróleo poderia cair para US$ 5 o barril. O mundo, dizia o texto, enfrentava "a perspectiva de petróleo abundante e barato no futuro previsível." Ontem, o barril superou US$ 117.

Não foi apenas o petróleo que desafiou a complacência de alguns anos atrás. Os preços dos alimentos também dispararam, assim como os dos metais básicos. A alta global das commodities está revivendo uma questão da qual não se tem ouvido muito desde os anos 1970: a oferta limitada de recursos naturais colocará um obstáculo ao crescimento futuro da economia mundial? Há três visões concorrentes, hoje, para responder a essa pergunta.

A primeira é de que é principalmente especulativa - os investidores, procurando aumentar seus lucros num período de taxas de juros baixas, se lançaram sobre futuros de commodities, provocando uma alta dos preços. Nessa visão, dentro de pouco tempo a bolha estourará.

A segunda visão é de que a alta dos preços dos recursos tem, na verdade, uma base em elementos fundamentais - em particular, na demanda em rápido crescimento por chineses, que começaram a comer carne e dirigir carros - mas que, com o tempo, perfuraremos mais poços, plantaremos mais hectares e a oferta aumentada derrubará novamente os preços.

A terceira visão é de que a era dos recursos naturais baratos acabou para sempre - estamos ficando sem petróleo, sem terras para expandir a produção de alimentos e, de uma maneira mais geral, sem planeta para explorar. Estou entre a segunda e a terceira visões.

Existem algumas pessoas muito espertas - George Soros é uma - que acreditam que estamos numa bolha de commodities (embora Soros diga que a bolha ainda está em "fase de crescimento"). Meu problema com essa visão, porém, é a seguinte: onde estão os estoques? Normalmente, a especulação empurra os preços para cima com a estocagem especulativa. Mas ainda não há sinais de estocagem de recursos naturais nos dados: os estoques de alimentos e metais estão em ou próximos de níveis historicamente baixos, enquanto os estoques de petróleo são apenas normais.

O melhor argumento da segunda visão, de que o aperto de recursos é real, mas temporário, é a forte semelhança entre o que vemos agora e a crise de recursos naturais dos anos 70.

Aquilo de que os americanos mais se lembram dos anos 70 é a forte alta dos preços do petróleo e as filas nos postos de gasolina. Novas fontes foram encontradas no Golfo do México e no Mar do Norte, e os recursos ficaram baratos novamente.

Desta vez, porém, pode ser diferente: as preocupações sobre o que ocorre quando uma economia mundial em crescimento constante força os limites de um planeta finito soam mais verdadeiras hoje do que nos anos 70.

De um lado, não espero que o crescimento na China vá desacelerar fortemente no futuro próximo. Isso já é um grande contraste com o que houve nos anos 70, quando o crescimento no Japão e na Europa,os emergentes da época, arrefeceu.

De outro lado, os recursos estão ficando mais difíceis de encontrar. As grandes descobertas de petróleo, em particular, ficaram mais raras e mais distantes, e nos últimos anos a produção de petróleo de novas fontes mal tem chegado para compensar o declínio da produção em fontes estabelecidas.

Suponham que já estejamos chegando aos limites globais. O que isso significa? Mesmo que aconteça de termos realmente chegado ou estarmos perto do pico da produção mundial de petróleo, isso não significa que um dia diremos, "Oh meu Deus! O petróleo acabou!" e ficaremos vendo a civilização descambar para uma anarquia.

Mas a elevação dos preços dos recursos naturais exercerá forte pressão sobre as economias dos países ricos. Alguns países pobres se encontrarão perigosamente perto da beira do abismo. Não olhem agora, mas os bons tempos podem ter simplesmente acabado.

*Paul Krugman escreve para o 'The New York Times'

Nenhum comentário: