Entrei pela mesa de Open, onde negociávamos títulos da dívida pública - LTNs, ORTNs (até peguei o finzinho das cambiais que enriqueceram meus chefes no período das maxidesvalorizações do cruzeiro, cruzado ou sei lá como era o nome do dinheiro). Anyway, nas boletas que eu fazia com o Itau, Bradesco, Real - sem falar do Bamerindus, Economico, Nacional (que já morreram - PROER), os números nas negociações eram de TRI para cima.
Isto me deu uma relação fria com o dinheiro. Quando fui para a bolsa (ainda BVRJ), da mesma forma, tive a oportunidade de operar para uma corretora que, nos anos 80, era uma das 5 líderes em volume no mercado. Cito as outras: Multiplic, Graphus, SN Crefisul, Garantia... além da Prosper, Ativa, Fator, que também completavam o ranking das 10 mais atuantes.
Quando desci para o pregão, então, o que não faltava eram "mitos". Os players eram conhecidos pelo nome, e todos sabiam por qual(is) corretora(s) ele(s) operava(m). Nagi, Matias, Alfredo, Pedro, Leo... só peso pesado. E eu era umas das pontas (entre outras) que executavam suas ordens. Muitas vezes com lotes "em aberto".
Ou seja: eu poderia vender/comprar a quantidade que houvesse oferta até um determinado preço. Imagina a Vale sendo cotada a 27,48 / 27,50 (spread justíssimo, por exemplo) e eu recebia uma ordem pelo telefone para tomar tudo que estivesse à venda até o limite de R$28!
A técnica era apregoar na venda para chamar comprador. VENDO a 27,50... COMPRO a 48. Fechado. Eu eu perguntava quantos lotes... mil? dois mil...? 50.000? Levei! Agora compro a 46 , eu gritava. Ninguém aparecia. Pago 48, levava mais uns 20 mil. Vendo a 50... apareciam mais umas tres ou quatro que iam junto... VENDO a 50... 200 mil... e eu tomava TUDO. Agora pago 50, e assim ia! No final eu tinha somado 2 milhões de ações a um preço médio de 27,70. E compro mais a 80!!! Logo o mercado ficava comprador a 28... e fechava valendo 30,00. A volatilidade era absurda... e os strikes das opções só venciam a cada dois meses. Havia muita liquidez mesmo!
Foi uma bela experiência. Mas eu era tão demandado que não podia operar para mim mesmo! Então, com dinheiro dos outros, a frieza era total. Essa foi a maior lição! Quando comecei a operar por minha conta e risco, os números não me impressionavam. Até o dia que levei uma trolha incrível... eu nunca tinha visto isso acontecer antes. Eu comprei 100 lotes de uma opção por 2,50 (acho). Nunca vou esquecer desse dia... o operador da Ativa se chamava Papagaio (o apelido) e o da Multiplic, José Carlos (conhecido como "Cheirinho").
Amigos, os dois entraram na roda para derrubar o papel... juntos berravam "vendo a 90, vendo a 80, vendo a 70, 60, 50, 40... vendo 10 milhoes a 00!!!" O mundo desabou, eu perdi um dinheirão sem conseguir abrir a boca. Paguei o preju e aprendi a lição.
Assimilei bem o golpe, eu tinha o dinheiro para pagar, mas era um bom pedaço do meu patrimonio, aos 23 anos. Depois ainda recuperei em dobro, o triplo, muito mais, larguei tudo e fui virar piloto!
Moral da história: só opere aquilo que vc tem, e pode perder!
Hoje eu nunca saio da minha zona de conforto. Posso ficar mais animadinho com um ganho ou outro, aborrecido por uma perda (ou seguidos stops), mas invariavelmente estarei tranquilo se conseguir seguir meu plano e agir com disciplina. Lucros ou prejuízos são consequências, e fazem parte do negócio. O importante é estar sempre bem estruturado, e não comprometer o seu capital de giro.... porque amanhã tem mais mercado!!!
Desculpe se me alonguei na mensagem... acho que ninguém vai ler até o final... eu mesmo nem sei mais onde comecei (e porque, rs). Mas é com prazer que conto os meus causos, e compartilho as experiências que vivenciei. Se isto puder ser útil a alguém... Valeu!
Abs ^v^
Mais no Fórum Monitor Financeiro
2 comentários:
Muito legal a história. Eu, muito novo no mercado, presto muito atenção nos causos contados por aí, para dar risada e também aprender muita coisa com o pessoal bem mais experiente.
Essa de operar com o que eu realmente tenho eu já aprendi. Na marra, mas já..hehehe
Abraços
Valeu Rafael.
É isso: o conhecimeto podemos até tentar transmitir, mas experiência de verdade só adquirimos com a vida...
... ou acreditando em quem compartilha as suas com desapego e isenção!
Forte abraço ^v^
Postar um comentário