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10.1.08

Crise com Recessão ou Crescimento sem Energia


Que o cenário anda feio para a economia americana, com sérios riscos de uma recessão, isto já parece filme em reprise e virou notícia cativa nos principais jornais e sites da internet. A crise dos EUA é de crédito. Ou falta de credibilidade na capacidade da moeda americana continuar servindo como valor de referência nas transações internacionais.

Mas todos dizem que o Brasil vai bem e seus fundamentos são sólidos. Não dá para contestar o aumento das nossas reservas cambiais, fruto do ingresso de capital estrangeiro em grande quantidade, que nos transmite uma aparente segurança diante do perigo de um colapso na economia global. Mas se o dolar perde valor a cada dia, faz sentido darmos liquidez a uma moeda decadente? Sabemos que a China tem muito poder de influência nas decisões do Fed, por estar lotada de títulos da dívida americana e uma montanha de divisas que, em caso de serem colocadas no mercado, afundariam ainda mais as cotações do combalido dolar. Então o "barato" pode sair caro, mesmo com a valorização do nosso Real. Estaremos comprando um mico?

O Brasil é um dos mercados emergentes mais cobiçados pelos investidores, sem dúvida, mas isto não significa que vivemos no paraíso. Também temos nosso problemas, e a questão do suprimento de energia para o crescimento da nação é um aspecto crucial. Como o dinheiro do PAC já ficou sob suspeita, com a paralisação de obras devido ao remanejamento de recursos mal orçados para suprir a perda do dinheiro da CPMF, o nossa preocupação se haverá racionamento vai ficando maior. A matriz energética é em grande parte dependente das hidroelétricas, e se não chove, o nível dos reservatórios vai por água abaixo. Na falta de chuva poderíamos acionar as usinas térmicas. Mas cadê o gás?

Projetar um crescimento da produção sem abastecimento de energia é totalmente impossível. Estamos mais para o purgatório do que ao céu! O inferno fica na América da Norte, mas imaginar que o paraíso é aqui, não deixa de ser mais uma manifestação ufanista, coisa que os nosso povo sempre foi craque! E se Deus é brasileiro, que nos mande muita chuva para evitar a escuridão. Ou então vamos começar a procurar ações de fábricas de vela!

Tudo se deve à falta de um melhor planejamento. Racionalizar agora o consumo de energia pode evitar uma racionamento futuro que será bastante doloroso. O último a sair que apague a luz para economizar.


Um comentário:

Seagull disse...

A estratégia na crise de energia

Por Ronaldo Bicalho

Nassif, apesar da grita dos especialistas, a estratégia do Governo na crise não é tonta. Ele sabe perfeitamente que sua decisão irá distribuir de forma assimétrica prejuízos entre os agentes econômicos. Uns serão preservados, outros sacrificados. Se aceitar a proposta do Kelman, afasta o risco de racionamento do setor elétrico à custa de rebentar com o setor de gás. Se preservar este setor, irá expor perigosamente o setor elétrico a um risco de racionamento.

Contudo, a informação crucial para essa decisão não existe. Chove ou não? Ninguém pode responder. Todos que estão neste jogo sabem disso e, a partir daí, jogam. Para o setor elétrico o pior quadro é aquele em que não chove e ele terá que racionar a energia no futuro próximo, para se defender dessa possibilidade ele aposta no quadro hidrológico pior, e se defende impingindo o custo ao setor de gás hoje. Para o setor de gás o pior contexto é o racionamento de gás hoje, e para se defender dessa ameaça ele aposta no quadro hidrológico mais favorável e empurra o custo de um futuro racionamento para o setor elétrico.

Enfim, cada um pode escolher a aposta hidrológica que lhe é mais favorável e sustentá-la na mídia por intermédio de seus especialistas e técnicos. Diante deste quadro, o Governo vai adiar o máximo possível a decisão e só no último momento fará o racionamento de gás, só quando ele for inquestionável. Só então assumirá um custo real no gás para evitar um racionamento real no setor elétrico. Jogo de profissional.


Publicada no blog do Luis Nassif