Hoje suas idéias são cultuadas de maneira quase religiosa por seguidores e propagadas em centenas de livros nos Estados Unidos. No mercado editorial brasileiro, porém, os títulos sobre Buffett são poucos. Em parte, essa lacuna poderá ser preenchida por uma obra que será lançada em novembro. Trata-se de "O Tao" de Warren Buffet, escrito por Mary Buffett, ex-nora do investidor, em parceria com David Clark, um velho amigo da família. Na obra, Mary se descreve como uma "buffettologista", integrante de um grupo de estudiosos para os quais quanto mais se pensa nas afirmações do investidor, mais elas se mostram reveladoras, tal qual os ensinamentos de um mestre taoísta -- daí o nome do livro.
Durante anos de convívio com Buffett, os autores tiveram a chance de colecionar seus mandamentos de uma maneira privilegiada. A dupla anotou frases ditas por ele em reuniões sociais e encontros familiares. A obra traz 125 dessas citações acompanhadas de uma descrição do contexto em que surgiram. A coleção traça o retrato de um homem disciplinado e precavido e dá pistas de como ele consegue manter um poderoso portfólio de investimentos sob a bem-sucedida holding Berkshire Hathaway. Quando fundou a companhia, na década de 60, cada ação da Berkshire Hathaway valia 8 dólares -- hoje, o valor dos papéis supera 100 000 dólares.
Dois princípios de Buffett predominam entre as citações do livro. Um deles é apostar apenas em empresas com fundamento ótimos -- ou, nas palavras do investidor, que possam ser comandadas por qualquer idiota. Ele se refere a companhias lucrativas por longos períodos e que tenham uma marca e um conceito de produto tão bons que sejam à prova de fases ruins. Esses momentos de baixa seriam, aliás, o momento perfeito para aumentar a carteira com papéis da empresa e esperar pela valorização. Buffett aplicou essa lição, por exemplo, em 1973, ao comprar 11 milhões de dólares em ações da Washington Post Company, dona de um dos jornais mais importantes dos Estados Unidos. Na época, o grupo de comunicação atravessava um período turbulento e parecia pouco atraente para os analistas. A situação mudou e os papéis começaram a subir. Hoje, a participação de Buffett na companhia vale algo em torno de 1,5 bilhão de dólares.
A disposição em segurar por tanto tempo um mesmo ativo sintetiza o segundo lema de Warren Buffett para os negócios -- uma lição aprendida em sua estréia na bolsa, aos 11 anos de idade. Na época, ele comprou três ações da petrolífera City Services, a 38 dólares cada. Logo o preço caiu para 27 dólares. Assim que elas se recuperaram e alcançaram uma cotação de 40 dólares, o pequeno Buffett as vendeu. Pouco tempo depois, elas alcançaram a cotação de 200 dólares e mostraram um dos muitos ensinamentos que ele gosta de passar adiante: paciência vale ouro. Segundo ele, o bom investidor se compromete com as ações de uma boa companhia para toda a vida e ignora ascensões e quedas momentâneas. Buffett não costuma se arriscar em ofertas iniciais de ações -- os chamados IPOs -- e prefere ações de companhias que vendem produtos tradicionais, como alimentos e roupas. Sinal de sua cautela é a recusa em adquirir ações de empresas de tecnologia. Buffett costuma afirmar que não importa o quanto a Microsoft rende hoje, mas sim o fato de que nem o dono dela, seu amigo Bill Gates, sabe qual será o futuro do setor daqui a dez anos. Logo, defende, trata-se de uma ação perigosa demais para comprar.
2 comentários:
Este artigo, da exame, e bem interessante. Aqui no Brasil, no entanto as estratégias de investimento do Buffet são pouco influentes.
O Buffet desenvolveu o seu estilo de investimento depois de ter aprendido muito com o Ben Graham, que foi seu professor de mestrado e por algum tempo o seu chefe. Sugiro, para qualquer investidor, o livro que influenciu profundamente a carreira do Buffet e o seu estilo de investir: O investidor inteligente de Benjamin Graham.
Parece, para muitos, que este estilo de investimento é bem mais difícil, mas na verdade, somente requer um pouco mais de esforço e principalmente de disciplina.
Obrigado pelo comentário, muito apropriado, Peter!
Ben Graham é mesmo de "tirar o chapéu".
Concordo com sua colocação de que as estratégias de W. Buffet não são as mais adequadas para nosso mercado acionário.
Para um rol de investidores que preferem tomar decisões apenas com base na análise técnica, recomendar conhecer mais sobre valuation, com a leitura de Damodaram, não atrai tanto interesse, embora também esteja entre os meus autores favoritos.
Abs ^v^
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