Hedge: como usar este recurso

A cada dia a informação está mais acessível aos investidores. Desde que passei a colaborar no Monitor Financeiro, o número de emails que são enviados para o contato pedindo a inclusão de um novo blog na relação dos selecionados não pára de aumentar.

Agora, então, com o lançamento da Comunidade do InfoMoney, a tendência é que novos blogs venham a ser criados na busca por um espaço e mais divulgação.

Contudo, a qualidade não pode ser penalizada. E mais ainda, pelo longo período de bonança que vivemos, qualquer um que tenha entrado na bolsa durante esta fase, com a dimensão dos ganhos auferidos, deve estar se achando o rei do mercado. E muitos já são tratados como "experts", apesar de apresentarem um histórico com menos de 2 anos na lida do mercado. Muito cuidado!

Faço esta introdução mais uma vez perplexo com os questionamentos que venho recebendo. Eu havia comentado anteriormente sobre um amigo que vivia em êxtase com o desempenho de sua carteira. Ao primeiro sinal de reversão, disseram a ele que a coisa era passageira (assim como a moça que acabou de entrar no lotação). A sua corretora orientava o rapaz a comprar mais e sempre que a bolsa entrasse em correção(?). Isto funciona plenamente em um bull market, tal como estamos presenciando. E assim ele vinha fazendo, com bastante sucesso.

Ocorre que justamente naquele dia da maior queda no mesmo pregão, ele me retornou para falar que seu operador estava sugerindo a ele um hedge com minicontratos da BM&F, para não precisar vender a carteira. Mesmo com meu alerta de que estaríamos próximos a um fundo, onde a LTA de LP poderia impor respeito, ele seguiu as recomendações do seu "analista". Já havia ganho mundos e fundos com suas valiosas "dicas" na segunda e terceira linhas (o que eliminava qualquer possibilidade de lançar opções para defender estes ativos) que acreditou mais uma vez em seu "guru". Vendeu o índice bem perto do suporte!

Mas como o mercado é cíclico, e o mundo dá voltas (às vezes algumas pessoas também dão), anteontem mesmo, ele telefonou dizendo que tinha desfeito o hedge e comprado ações da Vale! Estava feliz, e quem seria capaz de desmanchar seus sonhos, a não ser a própria Bovespa?

Eu diria que este recurso para proteção do patrimônio existe há muito tempo. Tanto tempo que não pode ser taxado de modismo. Mas cabe uma correta utilização. Como? Cada um tem o seu método e experiências, mas a técnica está disponível para todos. Particularmente, eu prefiro operar nas duas pontas, exceto em altas fortes onde a venda não faz nenhum sentido - além de tirar boa parte do ganho nas compras. Mas, em regra geral, eu busco trabalhar casando operações simultaneamente para diminuir minha exposição aos riscos. Nas quedas, a trava de baixa em opções é mandatória quando o objetivo não é fazer daytrade.

A trava de baixa com opções – também chamada de reversão - é uma estratégia eficiente para lucrar nos períodos de queda no mercado. É uma interessante alternativa, com custos acessíveis (pouca chamada de margem) em função do risco de perda ser limitado. Vende-se o direito de alguém (o tomador) exercer no dia do vencimento a compra de 1.000 ações e compra-se (de um lançador) o direito de adquirir 1.000 ações da Petrobras com preço de exercício acima. O saldo da operação é sempre positivo por haver ENCAIXE, onde recebe-se um valor financeiro na montagem como CRÉDITO (devido ao valor da VENDA ser maior que da COMPRA).

A vantagem dessa estratégia é que ela permite operar na VENDA com um risco previamente conhecido. Deve-se, no entanto, sempre atentar para a relação "risco x retorno" ao abrir a operação. Com a trava de baixa sendo montada, por exemplo, a 1 real, a relação é de 1:1. Ou seja, pode-se no máximo ganhar ou perder R$1,00. O interessante desta operação é montá-la quando a trava estiver de ATM para OTM, e o spread saindo acima de R$1,20 - para o ganho ser potencialmente maior do que o risco máximo.

Sempre considerando a expectativa da tendência estar favorável, pois, sendo uma estratégia de baixa, ela depende do movimento direcional para ser bem sucedida. Vale ressaltar também que uma trava de baixa não precisa ser necessariamente levada até o exercício, e pode ser zerada a qualquer momento.

Para os adeptos do Buy-and-Hold, o uso adequado dos derivativos evita com que o trader fique tentado a errar no timing. E isto é muito importante: não vender no fundo, nem comprar no topo. Portanto, contrariar as massas pode ser lucrativo, como também bastante doloroso. Então nestes momentos de euforia exagerada, quando as opções estão bem gordas e o mercado parece que vai subir para sempre, uma venda coberta na série seguinte pode embutir uma taxa de juros bem convidativa, caso venha a ser exercida. E se o ativo-objeto (apenas para Vale e Petro que oferecem liquidez em suas opções) vier a cair, o ganho com a queda do prêmio pode compensar a desvalorização na cotação do papel.

Para aqueles que carregam uma posição mais diversificada, a solução é mesmo trabalhar com o índice futuro. Mas não para decidir vender no pânico, e sim no auge da euforia. Hoje foram 2000 pontos a menos... proteger os lucros é saudável, mas tentar defender aquilo que já está perdido é impossível. Melhor começar de novo e estudar mais um pouquinho... até a próxima chance! ;-)