A revolta dos cotistas
Investidores de fundo que virou pó com a crise dos mercados em maio movem ação inédita contra gestores
Por Alexandre Teixeira
Corre na Justiça fluminense uma ação que promete se tornar um marco na relação entre investidores, gestores e distribuidores de fundos de investimento. Inconformado com as pesadas perdas sofridas em maio deste ano, um grupo de cotistas do fundo San Marino obteve uma liminar que obriga a firma gestora Global Invest e a administradora Mellon a apresentarem a documentação das operações que realizaram no mercado no período do prejuízo. A medida é uma tentativa dos investidores de apurar se o regulamento do fundo foi cumprido ou houve excessos na gestão. Na hipótese de tudo ter sido feito conforme o mandato dado à Global Invest, as apostas erradas que resultaram na virtual desintegração das cotas terão de ser aceitas como parte do jogo do mercado. Se, ao contrário, ficar demonstrado que os gestores tomaram liberdades não autorizadas com os recursos sob sua responsabilidade, caberá pedido de indenização. Os autores do processo desconfiam especificamente de que o fundo San Marino estava mais “alavancado” do que deveria. Segundo o regulamento, os gestores podiam montar posições até quatro vezes superiores ao patrimônio do fundo. “Nossos clientes, porém, têm motivos concretos para acreditar que esse limite foi extrapolado”, diz o advogado Marcello Klug, sócio do escritório Albino Associados, que representa cotistas que detinham 15% do patrimônio do fundo.
Marcello Klug, advogado: cotistas suspeitam de que gestores desrespeitaram os limites de risco do fundo
Maio foi um mês crítico para toda a indústria de fundos. Uma debandada de investidores estrangeiros da Bovespa deixou quase todos os gestores temporariamente no vermelho. O tombo do San Marino, porém, superou em muito a média do mercado. Seu patrimônio caiu de R$ 20 milhões em maio para R$ 143 mil no último dia 20. Ou seja, a aplicação virou pó. Daí a revolta dos investidores – e a inédita ação movida por eles. Em caso de desrespeito ao regulamento, o ilícito teria sido da Global Invest, responsável pela gestão do fundo – ou seja, pela alocação dos recursos dos cotistas em diversas modalidades de ativos. A Mellon seria cúmplice, já que, nos termos da instrução da CVM que regulamenta esse mercado, a “administradora tem a obrigação de fiscalizar os serviços prestados pelos terceiros contratados (incluindo os gestores), devendo, inclusive, apurar diariamente a observância da Política de Investimento por parte do gestor de carteira”.
Luís Hermano Spalding, representante legal da Mellon, observa que a liminar contra sua cliente foi suspensa na terça-feira 21, e mesmo assim a administradora optou por entregar as informações solicitadas. Embora tenha se desligado do San Marino no início do mês, a Mellon assume suas responsabilidades como administradora. Spalding explica que a empresa recebe as informações sobre as operações de seus fundos ao fim de cada dia ou na manhã seguinte. “Se percebe que um gestor infringiu o regulamento, manda desfazer a posição no ato”, afirma o advogado. Supondo que o responsável se recuse a cumprir a ordem, a política da Mellon é liquidar, ela própria, a posição irregular. Boa reputação, afinal, vale ouro neste ramo. E a Mellon hoje administra fundos de 102 gestores, num total de R$ 29,8 bilhões.
Também procurada pela DINHEIRO, a Global Invest limitou-se a dizer, por meio da advogada Carla Pedroza, que ainda não foi citada (formalmente comunicada do processo). Na recepção do Centro Comercial Século XXI, sua sede em Curitiba, informa-se que apenas uma secretária tem dado expediente na empresa.
com reportagem de Márcio Kroehn
O PATRIMÔNIO DO FUNDO
MAIO: R$ 20 milhões
HOJE: R$ 143 mil
30.11.06
O fundo que virou pó - San Marino da GlobalInvest
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