Petróleo em queda livre. Normalmente a Opep marcaria uma reunião de emergência e ameaçaria cortar a produção para tentar segurar os preços. A Venezuela sugeriu essa medida; a Arábia Saudita vetou.
Hugo Chavez tem usado o dinheiro do petróleo para financiar aliados na Bolívia, no Equador e na Nicarágua, se tornando uma pedra no sapato dos norte-americanos. Com a cotação mais baixa, ele perde poder. A Arábia Saudita, por outro lado, sempre foi a nação árabe mais afinada com os interesses dos EUA.
Quando o petróleo subia, muitos viam o dedo do governo Bush, sempre envolvido com as gigantes texanas do setor. E agora?
A verdade é que essa baixa da commodity é providencial para Bush. Por um lado alivia os indicadores econômicos americanos, por outro limita o poder de financiamento venezuelano à esquerda latino-americana - justo em um momento em que alguns líderes abandonaram a pura retórica e passaram a tomar medidas estatizantes.
Teoria da conspiração? Talvez, mas se por trás dessa posição blasé Saudita houver um dedo americano, podemos ver o petróleo se estabilizar em um patamar mais baixo por um bom tempo.
Será que, depois do fiasco no Iraque, Bush Jr. se lembrou da célebre frase que derrotou seu pai nas eleições? Depois de apoiar um golpe fracassado na Venezuela - que acabou por fortalecer ainda mais a figura de Chavez - ele pode estar dizendo diante do espelho: "It's the economy, stupid!".
3 comentários:
Concordo plenamente e acho bastante possível esta teoria, inclusive escrevi este comentário no dia 12/01:
"Os preços mais baixos fazem a Venezuela perder muito, com quase toda sua receita proveniente do óleo. Seria um artificio para conter o Chavez?"
Valeu iggy e lauro.
De certa forma também compactuo com vcs esta visão de uma teoria conspiratória...
O grupo do Bush seria capaz até de contrariar seus interesses financeiros para defender sua sobrevivência política, embora as duas sejam estreitamente relacionadas.
But... thats the way it is!
Abs ^v^
Márcio,
Duas palavras sobre suas indagações a respeito do preço do petróleo, do Bush e da Arábia Saudita, e “otras cositas más”.
Parecem-me plausíveis as interpretações dos “especialistas”, que consideram que a corrente “baixa” nos preços do petróleo tem sido influenciada por fatores como:
- inverno moderado no hemisfério norte (pelo menos até poucos dias atrás) com redução da demanda de combustível para aquecimento;
- aumento pelos Estados Unidos de seus estoques estratégicos de petróleo;
- dificuldade da OPEP para efetivar uma redução da oferta de petróleo;
Quanto a um possível papel do Bush nisso aí, tenho sérias dúvidas. Num plano mais geral eu reluto em aceitar, sem boas provas, interpretações que se fundamentem em teorias conspiratórias. Esse papo de que ele estaria forçando baixa do preço para ferrar o Chávez a meu ver não se sustenta. É conspiração demais, é Maquiavel demais para um Bush que, se fosse pintor, deveria ser catalogado como “primitivo”.
Por outro lado, considerando como o Bush não vem conseguindo praticamente nada do que se propôs para o Iraque (assunto ao qual conferiu altíssima prioridade e no qual está gastando centenas de bilhões de dólares), não aceito facilmente a idéia de que ele conseguiria ser mais eficiente no que se refere ao preço do petróleo.
Retomando o mesmo argumento de um outro ponto de vista, avalio que o Bush, se fosse manda-chuva no comércio mundial de petróleo, certamente teria usado esse poder para fazer baixar os preços durante aquele longo período no qual eles subiram muito e se mantiveram no alto. O povo americano estava furioso com os preços dos combustíveis e certamente tanto o Bush quanto os republicanos, se tivessem poder para tanto, o teriam usado para mostrar serviço e agradar aos eleitores, coisa da qual eles precisavam muito, como se pôde ver com a vitória dos democratas.
Passando agora a falar sobre a Venezuela, entendo que ela é um importante fornecedor de petróleo para os Estados Unidos, mas não é um exportador dominante no comércio mundial de petróleo. Apesar das ilusões de grandeza do Chávez, ele não manda na OPEP. E a OPEP, por seu turno, também não é uma entidade bem “organizada” e detentora de capacidade de ditar, a seu talante, os preços mundiais do petróleo.
Sobre a Venezuela, aliás, tenho uma visão que fui construindo desde os anos em que fui diplomata. Várias décadas atrás até que era um país razoável, com um regime político até meio decente, empenhada numa alternância no poder dos dois partidos principais, com o intuito de equilibrar o processo político. Mas os venezuelanos conseguiram bagunçar tudo e políticamente o país se tornou uma droga, vulnerável a caudilhismos e golpes, sobressaindo aí o atual governante, que vem a ser um misto de Fidelzinho de Irajá (pela obsessão pela farda) com trejeitos de Cantiflas (pelas escorregadas e quedas).
A par de tudo isso, creio que a Venezuela padece do que se poderia chamar de “a maldição da abundância de petróleo”. Para ela, como para muitos dos países árabes com grande exportação de petróleo, os bilhões gerados por tais exportações não têm resultado em avanços significativos nas taxas de desenvolvimento econômico e social. Cada um á sua maneira, eles acabam esbanjando e desperdiçando esses bilhões. No caso particular, a Venezuela ganhou bilhões com as altas anteriores dos preços do petróleo, mas a bagunça lá é tanta que não conseguiu “promover o espetáculo do crescimento”, como diz o Nosso Guia. E podemos ter certeza, o mesmo ocorrerá com os bilhões resultantes dos preços recentes. Vão gastar muito e mal, o Chávez vai continuar com essa demagogia de sair por aí distribuindo dinheiro, e o país, quando se der conta, vai ver que perdeu, mais uma vez, o bonde da História e continuará atrasado.
Dizendo com outras palavras, a Venezuela não precisa que ninguém de fora vá lá para atrapalhar o caminho dela e empurrá-la para o fundo do poço. Os venezuelanos se encarregam de fazer isso sozinhos. (No que eles me fazem lembrar bem dos brasileiros. Nós também não precisamos de que ninguém de fora – inclusive o Bush, os americanos, ou seja lá quem for – venha aqui para nos empurrar para o buraco. Como temos demonstrado bem ao longo da nossa história, nós, brasileiros, nos encarregamos de fazer isso melhor do que ninguém)
Vou parando por aqui.
Um abraço
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