Plus500

18.1.07

Mercosul e PAC

Com Venezuela , Bolívia e Equador... isso é bom para o Mercosul?

E o PAC - Plano de Acelaração do Crescimento deve sair mesmo na segunda: os setores de saneamento, energia e construção podem ser os grandes beneficiados com os incentivos para infraestrutura.
Preço do óleo depois de dar uma esticada até os 52 dolares, em 5 minutos voltou para a casa dos 50, e ajudou a derrubar a Petr4 abaixo dos 44. A trava da 44/46 está saindo agora em torno dos 0,90! Os dados sobre os estoques da commodity e o discurso temeroso do chairman do FED, motivaram a reação do mercado aqui e lá!

2 comentários:

Anônimo disse...

O PAC e o Plano de Metas

Coluna Econômica – 18/01/2007

Em entrevistas ontem Lula disse que quer garantia de que as medidas a serem anunciadas dentro do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) serão cumpridas. Dificilmente o PAC estará a altura do Plano de Metas de Juscelino Kubistcheck, o mais importante plano de desenvolvimento do país, mas não custa entender a lógica.

Durante os anos 40, o Brasil avançou em um conjunto de diagnósticos sobre as vulnerabilidades da economia. Não era um mero check-in list, mas a identificação qualitativa dos gargalos efetivos, que precisariam ser destravados. Junto com esse diagnóstico, o país criou uma rica tradição de preparação de projetos, um trabalho de engenheiros que atingiu o seu auge dos anos 70 e, depois, praticamente desapareceu da área pública.

Os dois principais autores do Plano de Metas foram Lucas Lopes, que trouxe a tradição de planejamento da Cemig, e Roberto Campos, que ajudou Lopes a montar o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O ponto de partida foi o trabalho “Diretrizes Básicas do Desenvolvimento Econômico”, documento genérico que serviu de base para os passos iniciais do presidente JK.

Esse documento foi montada com textos extraídos do ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), um grupo desenvolvimentista-nacionalista, liderado por Hélio Jaguaribe; com alguns condimentos liberais introduzidos por Lucas Lopes.

Logo que JK assumiu, aliás, Lucas Lopes foi para o BNDES, como secretário executivo, e Campos como diretor. Lá, Lopes criou o Conselho de Desenvolvimento, maneira encontrada por JK para montar o programa sem atropelar os ministros, muitos deles frutos de indicação política.

O documento tinha quatro partes. Primeiro, o Programa de Metas, desenvolvimentista, definindo obras, cronogramas e fontes de financiamento. Depois, um plano de estabilização, dando atenção a parte fiscal e monetária. O terceiro documento era uma proposta de reforma cambial. Havia a convicção profunda de que o salto do desenvolvimento só seria obtido com uma desvalorização cambial, para tirar o país da armadilha da apreciação cambial em que ele se meteu, depois do acordo de Breton Woods (que reorganizou o sistema cambial mundial). O quarto, um projeto de reforma fiscal que previa, inclusive, a autonomia financeira do BNDES.

Propunha-se também criação de um Fundo de Desenvolvimento Industrial, financiado por Obrigações do Tesouro, que remunerava de acordo com taxas do Tesouro mais uma parcela variável, equivalente à rentabilidade média de ações e títulos mantidos em carteira pelo BNDES.

Depois, surgiu a lista de objetivos, e a aglutinação de cabeças para trabalhar capítulos específicos, tomando por base os estudos da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, que tinha se encerrado alguns anos antes.

No planejamento inicial havia a previsão de ocupar-se o primeiro ano apenas com negociações políticas. Depois, mais dois anos para detalhamento do projeto.

Apenas um ponto não foi previsto. Na reunião em que se discutiram as metas do Plano, JK incluiu uma que não havia sido pensada: a construção de Brasília. Foi o que levou ao descontrole monetário que acabou comprometendo a eficiência da gestão JK.

enviada por Luis Nassif

Anônimo disse...

Mercosul que se perdeu...

O Mercosul não pode ser apenas um projeto econômico, disseram ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim, em mais um surto de fantasia geopolítica. Mas como pode ser mais que isso, se nem isso consegue ser? A reunião de cúpula iniciada ontem no Rio de Janeiro tornou mais visíveis as fraturas do bloco original, formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Mas essas fraturas não bastam para satisfazer a sede de fracasso. Incapaz de resolver seus impasses, o quarteto cometeu a imprudência, no ano passado, de aceitar como sócia a Venezuela do coronel Hugo Chávez. Um dos temas centrais da nova conferência, programada para encerrar-se hoje, é a admissão da Bolívia, liderada por Evo Morales, discípulo de Chávez e inimigo de quaisquer acordos comerciais com os mercados mais importantes. Com cinco sócios, o Mercosul é mais fraco do que era com quatro. Com seis, será ainda mais frágil, ou mais desconjuntado.

"É natural", disse o chanceler Amorim, "que os mercocéticos ou mercocríticos se enfureçam cada vez que acontece algo como a adesão da Venezuela ao Mercosul, porque percebem que o bloco está-se fortalecendo." Cometeu dois enganos graves nessas poucas palavras (provavelmente deliberados).

Os críticos da atual situação do Mercosul foram sempre favoráveis à formação do bloco e à integração de seus membros originais. Não descrêem das potencialidades do Mercosul. Condenam, simplesmente, os erros crassos cometidos nos últimos anos, desde quando os governos do Brasil e da Argentina decidiram minar a união aduaneira e dificultar os acordos com os principais parceiros. Em segundo lugar, falar em fortalecimento do bloco beira o delírio: com sócios como a Venezuela de Chávez e a Bolívia de Morales, o Mercosul apenas se torna balofo e mais se distancia de sua vocação original.

A tarefa urgente, neste momento, seria retomar o caminho da integração econômica, fortalecer a união aduaneira e buscar o caminho da inserção competitiva no mercado global. Enquanto o Mercosul se deixou enredar no protecionismo e nas briguinhas internas, outros países, conduzidos com maior sensatez, conquistaram preferências comerciais e tomaram fatias preciosas dos principais mercados. No bloco, só os governos dos sócios menores, Paraguai e Uruguai, parecem ter avaliado com algum realismo as oportunidades perdidas nos últimos anos.

"O Mercosul não é só um projeto economicista", disse o chanceler Amorim numa entrevista à TV Globo. O adjetivo "economicista" revela um estranho preconceito, inadmissível num diplomata responsável pelas negociações comerciais do País. De fato, o bloco foi concebido com ambições amplas, mas não se faz uma associação política, social e cultural apenas com retórica. A integração econômica ainda é a base mais concreta e mais sólida para outras formas de aproximação entre os povos, mesmo vizinhos. A integração econômica entre Brasil e Argentina progrediu rapidamente durante alguns anos, impulsionada pelo comércio e pelo intercâmbio de investimentos. Hoje os vôos entre Buenos Aires e São Paulo constituem praticamente uma ponte aérea. Cursos de português e de espanhol multiplicaram-se na Argentina e no Brasil. Não são necessárias explicações muito sofisticadas para fenômenos como esses.

Mas a integração empacou. A união aduaneira tornou-se uma ficção legal. Em vez de atacar os problemas e de trabalhar pela formação de cadeias produtivas, para intensificar a interdependência, os governos do Brasil e da Argentina permitiram que os impasses se agravassem. Os sócios menores foram esquecidos, sem receber o apoio necessário para aproveitar mais amplamente as possibilidades do comércio e do investimento.

A Venezuela de Hugo Chávez nada agrega a esse conjunto, a não ser problemas. O caudilho já se manifestou contra a liberalização do comércio agrícola defendida pelos outros sócios, em rara unanimidade, na Rodada Doha. O ingresso da Bolívia de Evo Morales tornará mais difícil o consenso a respeito das questões internacionais de interesse concreto para Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Seria preciso, sim, voltar aos objetivos da integração econômica e buscar a solução para os impasses, porque só assim seria possível consolidar a base necessária a uma associação mais completa.

Seria. Mas, agora, ao que tudo indica, não será mais.