Plus500

20.4.08

A Superpotência Econômica

Márcio,

Sobre o seu email recente, vou lhe responder com alguns conceitos. Mas para fazê-lo, vou seguir o lema “Vamos por partes”, lema que parecia ser aquele adotado também pelo famoso “Jack, o Estripador”.

Não havia lido o artigo do Economist, por cujo repasse lhe agradeço. O Economist tem se caracterizado por publicar periodicamente uma série de notícias e, especialmente, uma série de artigos sobre o Brasil recente. Têm sido peças bastante ancoradas em dados, estruturadas por uma análise acurada e redigidas com o conhecido estilo e qualidade que são marca registrada do Economist.

Tais peças são, para mim, tão mais importantes quanto mais conseguem ser objetivas e serenas. O Economist tem a vantagem de não ser escrito por jornalistas ou analistas brasileiros. Assim resiste mais facilmente do que estes seja ao “parti pris” enviesado em favor do PT e caterva, seja à profunda antipatia que muitos brasileiros têm (melhor seria eu dizer “temos”, no meu caso) tanto à pessoa do Nosso Guia, quanto aos milhares de petistas e similares que ele colocou e continua colocando no aparelho governamental.

Nesse contexto, o artigo me pareceu muito bem. Foi didaticamente alinhando os pontos principais merecedores de análise. Não se furtou a reconhecer avanços e progressos onde eles existem, não negou ao Lula o reconhecimento e mérito, quando ele lhes pareceu devido, e, por outro lado, levantou indagações bem fundamentadas, seja sobre a dimensão dos progressos brasileiros quando contrapostos à continuada e significativa elevação dos preços de nossas exportações, seja com relação à blindagem ou não frente a essa crise mundial, provavelmente universal, que já deitou raízes e tende a se espalhar por todos os recantos da Terra.

Sobre suas características psicológicas, Márcio, elas nos são bem conhecidas, de longa data. São um aspecto muito positivo de sua personalidade, que o enriquecem e que permitem fazer, com naturalidade, a doação de você mesmo aos seus. Nos tempos de hoje esse lado psicológico e afetivo tem sido reconhecido com muito mais naturalidade do que antigamente, e não há nada por que envergonhar-se dele. Muito ao contrário.

Quanto a suas referências sobre serenidade também vou tecer alguns comentários. A rigor e em termos conceituais, serenidade e afetividade não se excluem, embora na vida diária possa parecer assim. Serenidade me parece ter muito a ver com um controle das oscilações de quaisquer dos processos psicológicos e emocionais que possamos ter. Não quer dizer necessariamente, creio eu, atrofia ou erradicação de sentimentos. Homens sábios, desde longa data, têm percebido os méritos da serenidade. Serenidade foi o que levou Sócrates, acusado de “perverter a juventude” com os seus ensinamentos, a recusar um artifício para escapar ao julgamento e insistir para ser julgado pelos atos que jamais aceitou nem aceitaria reconhecer como criminosos. No caso de Sócrates, evidentemente, a serenidade se fazia acompanhar de extrema sabedoria, ambas cuidadosamente cultivadas ao longo da vida dele.

Para terminar vou lhe transcrever um breve texto, um diálogo que se encontra quase no final do romance “Narcissus and Goldmund”, de Herman Hesse, que recentemente ganhei de um amigo e que acabo de ler (Não sei se existe tradução do romance para o português).

Nesse diálogo, Goldmund, alma de artista, sentimental, emotivo, impulsivo, muitas vezes errante, dialoga com Narcissus, um monge um pouco mais velho do que ele, mas que tinha sido mestre dele no convento e que, sendo um tipo intelectual, racional, professor de filosofia e teologia e, agora como Abade, se comportava agora com mais domínio pessoal e maior serenidade ainda.

Goldmund, que antes invejara muito Narcissus por sua racionalidade, objetividade, pragmatismo e serenidade, características que, por outro lado, nem sempre lhe pareciam positivas, dirige a Narcissus uma pergunta fundamental e dele recebe uma resposta extremamente sábia.

É esse o texto que transcrevo abaixo:

    (Goldmund)

    “I don’t know, Narcissus. But in overcoming life, in resisting despair, you thinkers and theologians seem to succeed better. I have long since stopped envying you for your learning, dear friend, but I do envy your calm, your detachment, your peace”

“You should not envy me, Goldmund. There is no peace of the sort you imagine. Oh, there is peace, of course, but not anything that lives within us constantly and never leaves us. There is only the peace that must be won again and again, each new day of our lives. You don’t see me fight, you don’t know my struggles as Abbot, my struggles in the prayer cell. A good thing that you don’t. You only see that I am less subject to moods than you, and you take that for peace. But my life is struggle and sacrifice like every decent life; like yours, too”.

Sds

Zarautz

O artigo
da revista Economist em seu country briefing sobre o Brasil
http://www.economist.com/displaystory.cfm?story_id=11052873

2 comentários:

Seagull disse...

Oi zarautz!

Obrigado pelo pronto retorno e mais ainda pelas suas considerações amigáveis e incentivadoras sobre nossas características pessoais.

Sobre o artigo do Economist, a Folha de SP transcreveu uma matéria com o texto divulgado na BBC, que transcrevo abaixo:

Brasil é superpotência, agora com petróleo, diz "Economist"

da BBC Brasil

A revista semanal britânica "The Economist" afirma em artigo publicado nesta quinta-feira que o Brasil é uma "superpotência econômica" e que possivelmente o país pode virar uma potência de petróleo.

No editorial intitulado "Uma superpotência econômica, e agora com petróleo também", a revista afirma que "há motivos para se acreditar que a potência econômica da América do Sul de 190 milhões de habitantes está começando a fazer a diferença no mundo".

A revista diz que a comparação do crescimento do Brasil com a forte expansão chinesa é "enganosa", já que a China é um país mais pobre. "É muito mais difícil para um país de média renda, como o Brasil, crescer neste ritmo", diz a revista.

Além do editorial, o Brasil também é destaque em outros dois artigos da edição desta semana da revista. No texto "Os prazeres do tédio", a revista diz que o Brasil cuidou dos três maiores problemas que causaram a crise dos anos 1980: inflação, dívida e democracia.

Já no artigo intitulado "Mais recompensa", a revista diz que as informações de que o Brasil teria descoberto mais petróleo devem gerar grande alegria no governo.

No entanto, a revista alerta que a possível "receita extra [do petróleo] pode acentuar ainda mais as fraquezas da economia brasileira --que inclui um real forte e um setor público superestimado".

Na segunda-feira, no Rio, o diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Haroldo Lima, afirmou que o bloco Carioca (BM-S-9), localizado na Bacia de Santos, seria cinco vezes maior que o megacampo de Tupi, com reservas em torno de 33 bilhões de boe (barris de óleo equivalente). Isso tornaria o Carioca o terceiro maior campo de petróleo do mundo.

Em janeiro, a Petrobras comunicou a descoberta do campo de Júpiter, próximo à área de Tupi, na Bacia de Santos. À época, o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, sinalizou que ele poderia tornar o Brasil auto-suficiente na produção de gás natural. A diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria da Graça Foster, afirmou que o Brasil poderia até mesmo se tornar um exportador.

Seagull disse...

http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u393414.shtml